quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os Movimentos Sociais e o espetáculo midiático

Há pouco tempo, os veículos de comunicação, em especial aqueles chamados de “massa”, veicularam em seus periódicos, canais de TV - como o caso abaixo – imagens da destruição de pés de laranjas, na fazenda Cultrale no interior de São Paulo, por integrantes do MST.

Na opinião da jornalista e professora Christa Berger (confira abaixo a entrevista com Christa), a relação entre os movimentos sociais e a mídia é desigual. "A midia trata os Movimentos Sociais como um OUTRO que ameaça a sociedade. A sociedade que ela, a midia, defende e representa. A relação, portanto, corresponde a lógica da relação entre os que são desiguais estruturalmente", aponta Christa.



Para Joel Felipe Guindani, mestrando em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e pesquisador das temáticas: Comunicação radiofônica, Midiatização, Movimentos Sociais e MST, os grandes meios dão espaço para os movimentos, contudo, a pauta dos mesmos já está montada, e muitas vezes, essa pauta segue a lógica da espetacularização.

“Há todo um imaginário coletivo de que uma propriedade privada tem a questão da ecologia que é uma questão simbólica de cuidado”, aponta. Houve então, como apresenta Guindani, a construção da notícia se deu, primeiramente, em torno do fato dessa concepção simbólica. “A mídia desperta primeiramente esse reservatório simbólico nas pessoas, que é a questão da violência, da destruição, do capital, da propriedade privada, dos pezinhos de laranja”, explica.

Guindani, diz que midiaticamente o movimento agiu errado, mas ressalta que é preciso também ver pelo lado político da questão histórica do envolvimento dessa empresa (Cultrale) com aquele pedaço. “Então agora resta para o MST ndesconstruir toda essa cultura noticiosa a partir desse fato vai ser muito trabalhoso”, acredita.

Como funciona a comunicação no MST

Segundo Guindani, a questão da comunicação para o movimento se divide em duas linhas:
O movimento tem preocupação de desenvolver meios próprios de comunicação. “Seria o MST e seus veículos, e ,é lógico, que isso envolve o outro lado, que é a questão do MST com os meios de comunicação que não lhe pertence.”

Em outubro de 2006, João Pedro Stédile, um dos principais líderes do movimento, em entrevista ao Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, disse que o movimento aprendeu com os que nos antecederam na luta pela reforma agrária, e que a transformação na sociedade é imprescindível para a construção da autonomia e dos próprios veículos de comunicação, para a constituição de uma voz na sociedade. “Não cultivamos a ilusão de que os veículos de propriedade dos grandes grupos empresariais e do capital nacional e estrangeiro tenham simpatia para conceder espaços para as organizações que questionam o modelo econômico e combatam as injustiças sociais.” Veja a entrevista na íntegra aqui

“Para mim, os movimentos sociais populares permitem imaginar uma utopia possível: são o lugar da vivência e da construção dos desejos e mesclam projetos de libertação e de emancipação. E assim, o ponto de partida do trabalho fica enunciado: ele se inscreve entre aqueles que sonham um mundo melhor”, Christa Berger em Campos em Confronto: A terra e o texto.



Veja abaixo a entrevista concedida pela professora Christa.

Como a senhora vê a relação dos movimentos sociais e a mídia?
Penso que está largamento estudado que a relação é desigual e comprometida. Ou seja, a midia trata os Movimentos Sociais como um OUTRO que ameaça a sociedade. A sociedade que ela, a midia, defende e representa. A relação, portanto, corresponde a lógica da relação entre os que são desiguais estruturalmente.

A que se atribui a criminalização que muitos veículos fazem com movimentos como o MST?
Criminalizando é mais fácil assegurar esse outro lugar que os Movimemtos devem ocupar na percepção do leitor. Por um lado, corresponde ao que o leitor médio pensa e por outro sua visão é reforçada por esse enquadramento. A circularidade entre sociedade e mídia é que, a meu ver,importa detectar e compreender. Os compromissos mútuos, os reforços e os compromissos de não deixar frestas de simpatia aos que lutam ou que pertecem a parcela dos sem parcela da sociedade brasileira.

Como os movimentos podem usar os veículos a seu favor?
Acho dificil, mas os movimentos vêm encontrando estratégias de atuação e ação que podem romper ou pelo menos alterar um pouco a lógica perversa da mídia. Mas é uma questão politica para os Movimentos encontrarem resposta.

*Jornalista e professora, graduada em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mestre em Ciência Política pela Universidad Nacional Autonoma de Mexico, doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, tem pós-doutorado em Teorias do Jornalismo na Universidade Autonoma de Barcelona. Professora aposentada da UFRGS, atualmente leciona na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e desenvolve pesquisa “A memória no tempo do jornalismo”.

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